sábado, 25 de janeiro de 2014

Morreu em Lisboa, "o Poeta Esquecido" - Aguinaldo Fonseca

 O Poeta Cabo-verdiano  Aguinaldo Fonseca

"O poeta cabo-verdiano Aguinaldo Brito Fonseca, autor dos célebres poemas "Mãe Negra" e "Canção dos Rapazes da Ilha", faleceu na madrugada deste sábado em Lisboa, disse à agência Lusa fonte familiar.
Segundo João Silva Fonseca, filho, que não adiantou as causas da morte, o corpo de Aguinaldo Fonseca, que contava 91 anos, encontra-se em câmara ardente na Igreja do Campo Grande, em Lisboa, e o funeral decorrerá a partir das 15.30 horas no Cemitério dos Olivais, onde será cremado.
Natural do Mindelo, na ilha cabo-verdiana de São Vicente, onde nasceu a 22 de setembro de 1922, Aguinaldo Fonseca instalou-se em Lisboa em 1945, tendo visto os seus poemas publicados em vários jornais portugueses de então.
A poesia de Aguinaldo Fonseca, que foi o primeiro autor a utilizar África na substância poética de Cabo Verde, está difundida na Internet e em várias antologias e obras coletivas editadas em diversos países, sendo "Mãe Negra" o seu poema de eleição.
Ficou curiosamente conhecido como "o poeta esquecido", mesmo depois de ter publicado a coleção "Linha do Horizonte", em 1951, e de, sete anos mais tarde, ter reunido uma seleção dos poemas no suplemento cultural Notícias de Cabo Verde, tal como o retratou Michel Laban, um investigador argelino estudioso da literatura lusófona, que faleceu em Paris em dezembro de 2008.
A sua poesia retratava o ardor cívico e expunha firmemente as injustiças sociais, tal como é referido na Grande Enciclopédia Soviética, datada de 1979, estando traduzida em russo".

(http://www.jn.pt) 

Eis dois dos seus poemas más célebres:

    Mãe Negra

A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.
É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
- Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.
A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém…
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços…
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade

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A Canção dos Rapazes da Ilha


Eu sei que fico.
Mas o meu sonho irá
pelo vento, pelas nuvens, pelas asas.
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá …
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Nos frutos, nos colares
E nas fotografias da terra,
Comprados por turistas estrangeiros
Felizes e sorridentes.
Eu sei que fico mas o meu sonho irá …
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Metido na garrafa bem rolhada
Que um dia hei de atirar ao mar.
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá …
sei que fico
Mas o meu sonho irá
Nos veleiros que desenho na parede.

Aguinaldo Fonseca (Cabo Verde, 1922- Lisboa 2014)
Poeta

Nota Pessoal:

Não conheço bem o poeta nem a sua obra, mas  desejo conhecer melhor.
Que bom que ele nos deixou "coisas bonitas" como estes dois belos e tocantes poemas.
 Obrigada, Aguinaldo, por  a herança que nos deixou.
 Aqui, lhe presto, a minha homenagem sincera.

Aos familiares, apresento as minhas sentidas condolências, juntamente com as minhas preces, para que o Deus - Criador e Bom...console e conforte os seus corações

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