terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Teatro - Um poema de Cabral do Nascimento


Cabral do Nascimento

«Era uma vez um menino
Em seu jardim a brincar.
(Brincar, brincar, não brincava,
Sempre, sempre a meditar!)
Os outros vinham de longe
E a correr, para o levar.
(Correr, correr, não corria,
porém ficava a sismar.)
Na tarde de ouro se ouviam
Seus gritos enchendo o ar.
(Ele gritar, não gritava,
Mas calava-se a pensar.)
O mundo andava de roda
e tudo á volta a girar!
(Ele no entanto,cantava
Só a ver, a comtemplar .)
E tudo quanto se via
E tudo quanto passava,
Nos seus olhos se detinha,
Na sua alma ficava.

Tenho sido espectador
E toda a vida serei.
Estar de fora da dor,
Aquém do palco, do riso,
Longe da arena do mundo!
È insensatez? È juízo?
È bom? È mau? Não no sei.
Mas quanto drama profundo,
Devagar, devagarinho,
Sem voz, sem gesto, sem cor,
Se infiltra tão de mansinho
Na alma do espectador?
(Cabral do Nascimento)
1897 - 1978)


Poeta, colaborador de importantes jornais e revistas da sua época, investigador da história dos princípios do povoamento das ilhas da Madeira e dos Açores, foi também professor.
Muitas vezes sob o pseudónimo Mário Gonçalves, e em colaboração com a sua mulher, Maria Franco Machado, traduziu para português vários nomes importantes da literatura inglesa, norte-americana e francesa, entre outros, R. L. Stevenson, George Eliot, G. H. Wells, Henry James, Pearl S. Buck…

Nasceu a 22 de Março de 1897, no Funchal. É filho de João Cabral Crowford do Nascimento e de D. Palmira Cabral do Nascimento.
Fez o curso primário e secundário nesta cidade até 1915.
Entre 1915 a 1922 frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa e de Coimbra.
Em 1923, já no Funchal, ensinou na Escola Industrial e Comercial.
Em 1931 foi nomeado primeiro director do recém-formado Arquivo Distrital do Funchal.
Em 1937, fixou residência em Lisboa e ensinou nas escolas Ferreira Borges e Veiga Beirão até se aposentar, em 1958.
Em 1943 obteve o prémio Antero de Quental.
Faleceu a 2 de Março de 1978, em Lisboa.

Fernando Pessoa elogiou a sua primeira obra,"As Três Princesas Mortas num Palácio
em Ruínas" (1916), na revista "Exílio", considerando-o como "um poeta digno" do movimento "Orpheu

4 comentários:

gaivota disse...

passo a dizer bom dia, minha amiga! sem tempo, por uns dias, mas para ler cabral do nascimento, um poeta diferente!
bem escolhido e que bom teres trazido este "menino", em era uma vez!
beijinhos

renato disse...

Olá, Viviana!

Conhecia Cabral do Nascimento como tradutor de obras conhecias de autores estranjeiros! Como poeta não lhe conhecia qualquer obra, pelo que agradeço à Viviana o dar-me a conhecer atrvés deste belo poema!

Minha santa ignorância! Mas ninguém é perfeito!

Um abraço e obrigado!

Renato

Viviana disse...

Olá Gaivota, linda da Nazaré

Descobri O poeta Cabral do Nascimento, estes dias.

Graças aos "Oitocentos anos de Poesia Portuguesa", editado pelo Círculo dos leitores, do quam somos sócios desde há mais de 40 anos!
Este livro é um regalo para os olhos e um bálsamo para o espírito.

Tenho-o sempre aqui junto de mim.

Um abraço

viviana

Viviana disse...

Olá Renato, meu bom amigo

Eu só conheci o Poeta Cabral do nascimento, agora.

È o que vale ter bons livros á mão!

Nestes "Oitocentos anos de Poesia Portuguesa"...pode imaginar a quantidade de autores que encontro...

Uma riqueza.

Creio que nestes 44 anos de casados, onde investi em mos mais, foi na alimentação e LIVROS.

Não há espaço para mais nenhum.
E temos uma sala-biblioteca!

Imagine.

Tenha um lindo dia

um abraço

viviana